Nos últimos dias, veio à tona a notícia de que o ex-presidente Jair Bolsonaro escolheu o filho 01, Flávio, para ser pré-candidato a presidência. A decisão chacoalhou o mundo político e, na minha opinião, só é uma boa ideia se for um blefe (digo pensando pelo ponto de vista dos Bolsonaro).
A família Bolsonaro tem alta rejeição, então a candidatura de qualquer um seria arriscada (ainda que Michelle seja competitiva). Se Jair realmente quiser que o filho concorra, é uma péssima escolha, pois o lulismo já venceu o bolsonarismo e, sobretudo, a máquina pública está com Lula agora.
Por outro lado, se a intenção for oferecer a desistência do Flávio em troca da aprovação da anistia, é uma jogada brilhante. O tarifaço de Trump e sua vinculação com Eduardo Bolsonaro têm machucado o bolsonarismo. Apontar Flávio como sucessor reduz o holofote sobre Eduardo, o que pode amenizar a rejeição aos Bolsonaro.
Após a prisão de Jair, ficou um vácuo no grupo político. Sabia-se que é o ex-presidente quem dá as cartas, porém não havia um porta-voz oficial. Agora há. Um porta-voz que é, dentre os três filhos mais velhos, o mais discreto (na minha visão).
A escolha por Flávio tem potencial para estancar a sangria na popularidade da família, centraliza a articulação política nele e pressiona o antipetismo com o risco de um Lula 4. Pessoas como Ciro Nogueira (PP), Antônio Rueda (União Brasil), Gilberto Kassab (PSD) e Marcos Pereira (Republicanos) provavelmente pensam que Flávio tem grande chance de perder para Lula. Aí está o coração do blefe.
Se Flávio oferecer a desistência em troca da aprovação da anistia, acho que a oposição ao Lula vai balançar. Para ser candidato a presidência, Tarcísio de Freitas precisa deixar o governo do estado de São Paulo até o fim de março. Quando o prazo passar, o centro e a direita não bolsonarista perderão o nome visto como o mais forte dentre os presidenciáveis de oposição. Isso pode ter duas implicações: a anistia ganhar força e Ratinho Junior se consolidar como candidato alternativo.
O governador do Paraná geralmente figura bem nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Tarcísio e à frente de Ronaldo Caiado e Romeu Zema. Ciro Nogueira, presidente do PP e ex-ministro de Bolsonaro, apontou Tarcísio e Ratinho como presidenciáveis capazes de aglutinar o centro e a direita. Kassab, presidente do PSD, já disse que o partido apoiará Tarcísio, Ratinho ou Eduardo Leite.
Parece-me que a escolha de Bolsonaro pavimenta a consolidação de Ratinho Junior, pois escanteia Tarcísio. Zema já é muito alinhado ao bolsonarismo, mas, nesse cenário, seu nome tende a voltar à mesa.
Desfechos que projeto:
O antipetismo aprova a anistia, Flávio desiste e o candidato passa a ser Ratinho, Zema ou Michelle;
O antipetismo desiste e apoia Flávio;
O antipetismo se fragmenta (PP e União podem até ir com Flávio, mas o PSD provavelmente não iria);
O antipetismo vai para o “tudo ou nada” e lança uma candidatura para enfrentar Flávio.
Uma anistia que contemple Bolsonaro é especialmente difícil de ser aprovada, então suponho que não ocorrerá, levando ambos os lados a ceder: Flávio desiste, mas quem assume ainda é um nome bolsonarista, como Michelle ou Zema.
O “tudo ou nada” parece distante, porém não considero impossível. Os grandes articuladores políticos veem pesquisas e, considerando as que vejo, não é absurdo considerar um “all in” em Ratinho.
Projetando as chapas
Mesmo no cenário de “all in”, eu duvido que a federação União/PP não fique com o candidato de Bolsonaro. No frigir dos ovos, creio que Ciro Nogueira seria escolhido como vice.
Se para Flávio é interessante acenar ao centro, para Ratinho é interessante acenar à direita. Nessas condições, entendo que Zema seria um dos melhores vices possíveis para ele.
Quanto da força de Bolsonaro é bolsonarismo e quanto é antipetismo? Flávio vs Ratinho vs Lula poderia nos dar uma resposta.
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