
Quando passei a acompanhar a política brasileira mais de perto, em 2018, importava-me muito com a figura do presidente. Os quatro anos de Bolsonaro trouxeram-me outra perspectiva, a qual creio que deva ser a base para a estratégia da direita nas próximas eleições gerais.
O presidente tem poder, mas depende do Congresso. Se os parlamentares quiserem, mudam a Constituição sem o apoio do presidente, e ainda podem derrubar o veto dele à leis. Podemos dizer que o Legislativo Federal tem a capacidade de governar sozinho. Por esse motivo, os legisladores são mais importantes do que o presidente.
Sabendo disso, o que pode ser feito? O sistema político-eleitoral brasileiro incentiva os fisiológicos (que importam-se mais com cargos e emendas do que com ideologia) a prosperarem na Câmara dos Deputados, entretanto, o Senado guarda uma regra útil: cada coligação pode lançar apenas um número restrito de candidatos.
Ou seja, em 2026, se os partidos A, B, C e D coligarem com o governador Y, esse grupo terá apenas dois candidatos. Organizando com inteligência, a direita ideológica pode reunir uma frente partidária ampla e garantir que a maioria dos candidatos mais fortes sejam da direita ideológica.
A forma mais eficiente de reduzir a bancada fisiológica do Senado é convencer os fisiológicos a saírem da disputa. Os meios para isso provém da entrega de cargos, emendas parlamentares e candidaturas ao Executivo.
Pode parecer hipócrita e contraditório, todavia, é necessário vencê-los em seu próprio jogo para mudar as regras e aumentar a probabilidade de o eleitor fazer boas escolhas. Alguém poderia dizer que isso beneficia corruptos e é aí que entra o poder absurdo do Senado.
Se os anticorrupção forem maioria absoluta, 41, poderão se unir e aprovar para o Poder Judiciário/Ministério Público apenas pessoas comprometidas com a causa. Assim, esses aprovados poderão iniciar a correção de rota do país, cabendo ao eleitor a tarefa de votar adequadamente e tirar os fisiológicos da Câmara.
Exemplificando, a ideia seria a trinca direitista (PL, Republicanos e PP) oferecer apoio à reeleição de um governador em troca da indicação dos candidatos para as duas vagas ao Senado (no caso de Raquel Lyra, em Pernambuco, e Fábio Mitidieri, em Sergipe. Na Bahia, o acordo poderia ser com ACM Neto).
Os partidos da trinca têm muito dinheiro do fundo eleitoral e muito tempo de TV, dois elementos importantes para o resultado das eleições. A chance de conseguir pelo menos uma das vagas é grande, desde que a trinca se una.
Não é uma estratégia perfeita, já que mesmo na trinca há fisiológicos (que não concordariam com os termos), mas é preciso começar por algum lugar, ou então o Centrão sempre governará o país.
É melhor deixar o Poder Executivo com os mais moderados e ampliar a força no Senado do que entrar na briga com eles e ter que indicar o possível para o STF, em vez do ideal.
Claro que ter a presidência ajuda a conduzir as indicações, só que ele não precisa ser totalmente ideológico. É um dos meus motivos para apoiar Ratinho Junior, governador do Paraná.
Ele é do PSD, um partido de centro, e, aparentemente, é conservador nos costumes e liberal na economia. Se há unidade no essencial, o resto pode ser negociado com o partido em troca do apoio aos legisladores ideológicos.
Por fim, a estratégia pode ser útil, mas de nada adiantará se o povo caminhar numa direção diferente. Brasília é o reflexo do Brasil.
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