A presidência em 2026

Estão em andamento manobras jurídicas que visam tornar Bolsonaro inelegível. Certamente, eram cartas prontas para atingi-lo independente do resultado das eleições. Como ele perdeu, o que fica em jogo é a possibilidade de concorrer daqui a quatro anos.

Vários veículos já ventilam a possibilidade de Bolsonaro tentar a presidência em 2026, embora o próprio nada tenha dito nesse sentido. Vejo a vontade de colocá-lo na disputa como um erro gravíssimo. Conforme dito no meu texto sobre a derrota de Bolsonaro, ele é o maior responsável.

Voltar ao ringue eleitoral automaticamente traria de volta todas as críticas relacionadas à pandemia, as quais tornaram o muro da rejeição ao presidente intransponível. Essas mesmas críticas não podem ser direcionadas aos grandes nomes da direita, pois Bolsonaro foi um lobo solitário. Desse modo, outros candidatos seriam melhores do que ele.

Naturalmente, o candidato da direita à presidência em 2026 será Zema, o governador de Minas Gerais. Zema tem uma avaliação positiva superior a 50%, manteve boa relação com Bolsonaro e foi um cabo eleitoral importantíssimo para a quase virada no segundo turno. Não há motivo para que o presidente se oponha e acredito que ele já tenha isso em mente desde o primeiro turno de 2022.

Zema tem a experiência de ser um empresário bem-sucedido, um governador eficiente e defende os princípios liberais de responsabilidade fiscal e redução da máquina pública. Ele chegaria para o cargo mais lapidado que Tarcísio, governador eleito de São Paulo. Estar no segundo mandato torna o passo adiante natural.

Com um possível candidato desses, não faz sentido buscar quem possuiria óbvios problemas eleitorais. Bolsonaro teve a chance dele e perdeu. Não se pode correr o risco de manter a esquerda na presidência por uma escolha apaixonada.

Claro que o presidente não é uma peça inútil. Zema precisará de sua ajuda para ser o novo líder eleitoral da direita. Por outro lado, será necessário mais do que isso. A transferência de votos não é direta e características marcantes do Bolsonaro não existem em Zema. Isso pode dispersar inclusive a vontade da militância de apoiá-lo.

Mesmo considerando que Zema herdará a maior parte dos votos de Bolsonaro, a composição política será essencial para superar um gigantesco obstáculo: a muralha vermelha do nordeste. O governador de Sergipe, Fábio Mitidieri, é do PSD, enquanto Raquel Lyra, governadora de Pernambuco, é do PSDB. Fincar a bandeira nesses estados seria útil para colocar as mãos na faixa presidencial.

O PSDB é mais difícil de convencer, devido ao óbvio objetivo de Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, de concorrer à presidência. Por outro lado, o PSD é o partido do governador Ratinho Jr, do Paraná. Sua gestão só não é comparável à de Zema porque o Paraná não fora devastado economicamente, diferente de Minas.

Por também estar no segundo mandato, Ratinho é um natural presidenciável. O contexto, a afinidade ideológica e a boa relação que ambos tiveram com Bolsonaro tornam uma chapa Zema/Ratinho desejável. Uma opção eleitoral possível seria ter um vice nordestino, mas entre senadores e governadores da região não há um nome viável para o posto.

Zema sabe que articulação política é importante e montou uma coligação enorme na campanha de reeleição. Ao mesmo tempo, sempre foi leal ao partido Novo. Talvez o momento decisivo para a definição do cenário eleitoral de 2026 seja o da escolha de Zema entre ficar num partido quase insignificante ou ir para uma sigla mais estruturada e capaz de costurar alianças, como o PL ou o Republicanos.

Palpito que em 2026 o cenário terá Zema, Ratinho Jr., Eduardo Leite (PSDB), Moro (União Brasil), Alckmin (PSB) e Ciro Gomes (PDT). Além da já explicada aliança presidencial, Zema pode atrair o União Brasil oferecendo a presidência do Senado (o PL poderia ficar com a presidência da Câmara).

Com uma articulação partidária ampla, a conquista do bolsonarismo e a manutenção da qualidade de seu governo, Zema terá totais condições de vencer em 2026.

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