A direita é maioria no Congresso?

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Um dos argumentos usados pela campanha de Bolsonaro no segundo turno foi que o Congresso teria maioria de centro-direita, o que tornaria um governo dele mais estável do que um governo Lula. Essa perspectiva de que a direita venceu as eleições legislativas foi propagada também como um prêmio de consolação, mas o panorama político não é tão promissor quanto se supunha.

Os partidos identificados como direita (PL, PP, REP, PSC, PODE e UB) correspondem a 42 cadeiras no Senado, o que é suficiente para aprovar e barrar projetos de lei, indicados ao STF, à PGR e eleger o presidente da Casa. Essa conta simples, no entanto, ignora um fator essencial: Bivar, presidente do UB, já disse que não será oposição ao Governo Lula.

Há senadores no UB que tendem mais à direita, como Soraya Thronicke e Sergio Moro, mas bastariam dois votos do partido para Rodrigo Pacheco, atual presidente do Senado, se reeleger. Pacheco conta com 39 votos, somando a esquerda e o centro.

Segundo informações, Davi Alcolumbre, do UB, está negociando com Pacheco o apoio à sua reeleição em troca da sucessão da presidência do Senado. Jorge Kajuru, do Podemos, declarou apoio a Pacheco e disse que ele tem 48 votos. A não ser que o PL consiga a façanha de dividir o centro, só os dois citados já garantem a vitória do candidato governista.

O grande trampolim que pode alavancar a candidatura da oposição é a insatisfação com a postura de Pacheco frente ao STF. A continuidade das manifestações de rua e das ações do ministro Alexandre de Moraes devem aumentar a pressão contra o presidente do Senado e levar votos do UB para o outro lado. A questão é: será o suficiente?

Quem comandar o Senado terá maior poder de negociação. Se Pacheco vencer, algo que é provável, Lula contará com aliados no STF e conseguirá governar sem grandes problemas, desde que ceda um pouco. Se Pacheco perder, a direita terá chance de dobrar Lula e escolher ministros para o STF.

Essa chance existe porque Lula irá querer alterar a Constituição e tais propostas exigem 3/5 do parlamento. Com 33 votos a direita poderia barrar esses projetos e alcançar esse número é factível, visto que parte do UB está mais à direita.

As vitórias de candidatos bolsonaristas para o Senado não farão o próximo governo ser de direita, mas obrigarão o lulopetismo a recuar em suas intenções. Inclusive, quanto mais o governo eleito insistir em desprezar a responsabilidade fiscal, mais sua imagem será fritada pelo mercado e pela imprensa, aumentando a força da oposição.

E a Câmara?

No caso da Câmara Federal, a composição partidária indica 213 deputados de direita, 161 de centro e 142 de esquerda. Considerei os 59 do UB como centro, mas a Câmara é mais complexa. Há uma variedade maior de pensamentos e não necessariamente quem foi eleito por um partido de direita votará conforme tal ideologia.

Considerando a intenção do UB de se fundir ao PP, é altamente provável que Arthur Lira, do PP, se reeleja presidente da Câmara. Observando o alinhamento da primeira gestão de Lira à Bolsonaro, é cabível dizer que a centro-direita influenciará mais a Câmara do que o Senado. O mesmo critério que identifica 42 senadores de direita (metade do total) identifica 272 deputados (mais que a metade do total).

A política não é 100% ideológica e já foi ventilada a possibilidade de partidos de direita, como o Podemos e o UB, formarem uma federação com o MDB, então o impeachment de Lula não é tão provável quanto os resultados partidários sugerem.

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